ASSEMBLÉIA
NA MATA
Foi um delírio de contentamento. Os
caçadores rodearam a onça morta, discutindo as peripécias da formidável
aventura.
Emília reclamou logo todas as horas para
si.
- Se não fosse a minha espetada com o
espeto de assar frango, queria ver...
- O que decidiu tudo foram as facadas que
dei – alegou Narizinho.
-Que nada! Juro que foi o meu tiro de
canhão – disse Rabicó.
-Pexote! Berrou Pedrinho. – A bala de
canhão nem arranhou a pele da onça, não está vendo?
Como daquela disputa pudesse sair briga, o
Visconde ponderou:
-Todos ajudaram a matar a onça e todos
merecem louvores. Mas se não fosse a pólvora de Pedrinho, estaríamos perdidos.
Depois de cegar a onça com a pólvora, tudo
ficou mais fácil. Basta de discussão.
Pedrinho apanhou uns cipós e juntos
amarraram a onça para leva-la à casa. Foi o que mais custou.
-Francamente! – disse Rabicó - prefiro matar
dez onças a puxar uma só!
O sol já estava alto, Narizinho disse:
-Pobre vovó! Passa maus momentos por nossa
causa. A esta hora deve estar aflita a procurar-nos por toda parte.
- Mas vai consolar-se vendo a bichana que
matamos – disse Pedrinho.
Duas horas depois avistaram a casa. Tia
Nastácia e Dona Benta estavam procurando pelo pomar...
-Lá vêm vindo eles, sinhá! E vem puxando
uma coisa esquisita... Quer ver que caçaram alguma paca?
Narizinho, de longe gritou:
- Adivinhe vovó, o que matamos!
- Uma paca? Um veado, um porco do mato, uma
capivara...
Narizinho, então chegou-se para ela e
disse, fazendo uma careta de apavorar:
-Uma onça, vovó!
O susto de D. Benta foi o maior de sua
vida.
- O mundo está perdido, sinhá – murmurou. –
É onça mesmo.
As cenas da caçada da onça haviam sido presenciadas
por muitos animaizinhos selvagens, entre eles um intrometidíssimo sagui. Ficou
tão admirado da proeza dos meninos que levou longo tempo a piscar. Por fim,
resolveu-se. Pulou de galho em galho e foi ter com a capivara que morava na
beira do rio.
Contou tudo a ela. A capivara abriu a boca.
Aquela onça era o terror de todos os bichos da redondeza. Como então, fora
vítima dos netos de D. Benta, simples crianças?
Se as crianças haviam matado a onça,
poderiam matar qualquer outro filho da selva.
-A situação é bastante grave. Vejo que
esses meninos são um grande perigo. Vou reunir uma assembleia de todos os bichos,
para discutirmos o caso e tomarmos as medidas necessárias para nossa segurança.
Ia passando pelo céu um gavião perseguido
por dois bem-te-vis. A capivara pediu que fossem os mensageiros.
- Avisem a todos para que estejam aqui
reunidos, amanhã à noitinha, debaixo da figueira Brava.
No dia seguinte, os animais foram chegando.
Logo que os viu reunidos, a capivara tomou a
palavra e expos à situação perigosa em que se achavam todos.
-Peço a palavra!-gritou o bugio, que estava
de cabeça para baixo, seguro pelo rabo. –Acho que o melhor meio de escapar
desses meninos é fazer como nós: morar em árvores.
-Imbecil! – resmungou a capivara. – Quem tiver
uma ideia mais decente que fale.
-O meio que vejo é mudar-nos para outras
terras. – adiantou o jabuti.
O jabuti esclareceu que não existiam outras
terras. O homem destruiu todas.
A jaguatirica sugeriu guerra aos meninos do
sítio.
A capivara ficou pensativa. No entanto
lembrou-os que os animais não entendem nada de guerra.
-Pois que fique a luta a nosso cargo –
disse a jaguatirica. – Havemos de vencer aqueles meninos.
A assembleia aprovou a idéia. As onças,
jaguatiricas, cachorros do mato e iraras da floresta lutariam enquanto os
outros animais ficariam na torcida.
A assembleia dissolveu-se. Cada qual foi
para sua casa.
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